terça-feira, 23 de junho de 2009

Fichamento da aula e resumo do texto "Visualização de dados como uma nova abstração e anti-sublime"Lev Manovich

Na aula do dia 04/03, discutimos o texto Visualização de dados como uma nova abstração e anti-sublime, de Lev Manovich. A professora Lúcia Leão trouxe algumas noções dos objetivos da ciência para Pierce, descrevendo as três categorias fenomenológicas criadas por ele para tratar o conhecimento. Assim a aula foi introduzida para que partíssemos do entendimento que a estética, para Pierce, assim como a filosofia, pode ser compreendida como ciência e apreendida através de tais categorias (no caso da estética, na primeira categoria, ou seja, a primeridade, na qual a qualidade é o fenômeno a ser estudado). Em seguida, passamos por alguns exemplos da estética do sublime em diferentes períodos, e também diferentes abordagens do termo em obras distintas, como as de Kant e Deleuze. No texto discutido, Manovich faz uma breve crítica à arte de visualização de dados. O autor vai analisar alguns projetos daqueles quem ele considerou os melhores artistas da visualização de dados. Manovich compara a visualização de dados com a arte moderna embasado no discurso que assim como os primeiros, os artistas modernos também tentaram dar conta do “caos visual da experiência da metrópole em imagens geométricas simples”. Os artistas da visualização de dados partiriam do concreto (os bancos de dados) para o abstrato (com estes emaranhados de dados “reduzidos a seus padrões e estruturas”) e voltariam ao concreto nas representações visuais que produzem. Dessa forma, estes artistas procuram mapear o excesso em uma representação que esteja mais de acordo com a percepção humana. Ou seja, é uma síntese de uma realidade de incontáveis informações, muitas vezes interessante apenas para quem lida especificamente com elas, que passam a ser perceptível para o expectador comum, para o indivíduo que frui a obra. Neste caso, Manovich vai colocar que os artistas da visualização de dados, ao contrário da preocupação com o sublime da arte romântica, estariam lidando com a anti-sublime. Ou seja, os fenômenos considerados não representáveis para os românticos por sua grandeza ou por estarem além do que pode ser apreendido pelos sentidos e razão humanos, são representados em uma escala “comparável com as escalas da percepção e cognição humanas”. Ele usa o exemplo da representação do ciberespaço (e sua imensidão) na obra de Jevbratt, 1:1, reduzido a uma única imagem na tela do computador. Neste ponto fizemos algumas considerações em sala. Não se pode dizer que os artistas da visualização de dados estejam de fato preocupados com a estética do sublime, mas colocar também em seu lugar a abordagem de uma estética do anti-sublime não pareceu, para algum de nós, ser de fato uma solução. É preciso lembrar que em muitos projetos em visualização de dados a interatividade é parte integrante principal da obra. Ou seja, muito do processo da experiência estética desses trabalhos ocorrem durante a interação do expectador com a obra, então como falar de um anti-sublime sendo que essas representações não se esgotam em sua forma final, mas sim ganham novos significados em seus fluxos? Será que durante esse processo, a estética do sublime estaria mesmo totalmente descartada? Mesmo que a resposta seja afirmativa, será que atribuir a tais obras a estética do anti-sublime não seria também reduzir o seu processo a uma representação visual de síntese apenas? Na aula, nós ficamos por aqui, porém Manovich vai adiante e conclui seu texto dizendo que o maior desafio da arte da visualização de dados seria “representar a experiência pessoal subjetiva de uma pessoa que vive em uma sociedade de dados”, fazendo isso “além das já familiares e ‘padronizadas’ técnicas modernistas de montagem, surrealismo, absurdo, etc.”. Este assunto não discutimos em sala, mas acredito ser válido dizer que vejo esta como uma afirmação passível de crítica. Uma das colocações de Manovich no texto é justamente que “somos continuamente informados que na boa arte ‘a forma e o conteúdo formam um todo único’ e que ‘o conteúdo motiva a forma’, portanto talvez fosse interessante pensar que nas artes visuais a forma não se encerra no limite do visual, já que a interatividade é tão importante na obra quanto a sua representação concreta. Isto significa que essa subjetividade que Manovich conclama, pode ser percebida talvez no próprio fluxo da interatividade, sem mais a visão de um único artista, mas com a participação de vários autores. Se pudéssemos ampliar a noção de “forma”, dentro dessa realidade interativa, para uma abordagem de “fluxo”, poderíamos dizer que as artes da visualização de dados estariam, portanto, colocando em perfeita harmonia o ideal da “boa arte” que junta “conteúdo e forma”.